15 de fevereiro de 2009

Despedida de um sonho

Foto: Francisco França

Anos atrás em uma das conversas com uma pessoa querida (Cristina Moura) falávamos sobre o que movia, alimentava e dava pulsão ao amor. Lembro como se tivesse sido há pouco Cristina Moura me dizendo que não acreditava em amor sem três coisas: afeto, cumplicidade/afinidade e projeto de vida. Eu, por sei lá qual motivo sempre acreditei que o afeto seria capaz de tudo, inclusive, de criar as outras como a versão bíblica do sopro de Deus no barro e eis o poder da criação divinal.

Para amar, é necessário apenas, o amor. Mas para mantê-lo vivo é preciso cumplicidade. Tenho tido essa consciência de que amor por si só não adianta de nada. Há de haver intimidade e não me refiro àquela intimidade que corrói o senso de etiqueta entre duas pessoas (usar banheiro juntos, por exemplo...). Me refiro à intimidade de duas pessoas se entenderem pelo olhar, silêncio, tom de voz, gargalhadas, expressões faciais das mais diversas ou simples movimentos do corpo sem caras e bocas.

A intimidade dos sentidos e de sintonia entre duas pessoas é que dá o termômetro do calor do amor. Sim, porque antes disso a paixão queima, consome e alimenta duas pessoas, mas quando acaba fica apenas uma sensação de que tudo poderia ser diferente. Eu podia ser diferente, mas se fosse diferente não seria eu. Seria algo idealizado por outrem. Sobre essa lógica estava conversando com amigos virtuais ontem e lembrando o quanto é difícil hoje em dia as pessoas perceberem as outras em sua complexidade, buscar a essência e admirá-las pelo que tem e não pelo que podem conquistar ou ser como imposição da conquista.

Amar significa se despir desse egoísmo que Cazuza falava tão bem... 'pra quem não sabe amar fica esperando alguém que caiba no seu sonho'. Eu durante anos tive a sensação de estar fazendo a escolha certa. Mas olhando pra trás vejo o quanto fomos e somos desconhecidos um do outro. Incapazes de conseguirmos um ponto de equilíbrio para risos e papos em comum.

E assim assumo a minha culpa de ter deixado ir tão longe algo que poderia ter sido apenas uma temporada de verão, igual aquelas que vivemos quando temos 16, 17 anos. E não se tornado em um amor com suas inúmeras interpretações, alegrias e dores. Amar é querer o que já existe. Não o vir a ser.

Por isso, disse adeus, bati a porta e não olhei pra trás.


Obs. sobre a foto: Eu (Wagner) durante a cobertura de uma matéria para o Jornal O Norte sobre a maré alta no calçadão da praia de Manaíra/João Pessoa/PB fui clicado por Francisco França.


5 comentários:

Anônimo disse...

Texto muito bom...Repito a grande capacidade que vc tem de tocar o leitor de seus textos, de forma que ele sinta suas palavras em si, que reflita sobre tuas conclusões, analisando-as dentro das suas próprias realidades...Não foi atoa que você foi eleito no VejaBlog...Para bens Wagner Hardman...adoro tu cara de tatu...rsrss

Unknown disse...

Oi Wagner...cheguei aqui através de Diego que para se livrar de mim no msn indicou o seu blog..kkkk...Brincadeira.Falando sério,Di tem razão quando disse que você escreve bem, eu adorei!

Wagner Hardman Lima disse...

Michelle, obrigado. Diego é generoso demais. hehehehhehehe O melhor foi que ele tentou se livrar de vc no msn. Fiquei curioso: ele conseguiu? kkkkkk que escroto, Diego kkkk

volte sempre que quiser. bjao

Unknown disse...

Oi Wagner, matando a sua curiosidade...Não,Di não conseguiu, até pq isso não é algo que ele realmente queira, a prova é que enquanto eu lia a janelinha dele não parava de piscar kkkkkkkkk
bju pta tu

Anônimo disse...

Oi Wagner,
Apesar de não ter postado antes, sou acompanhante dos seus escritos. Adoro a forma como vc transcreve para as palavras seus sentimentos.
Esse texto está especialmente lindo!
Parabéns
Bjos