29 de junho de 2011

A ditadura da felicidade



Convivo bem com o estar só, o que não significa não imune à paixão. Há sempre algo nas relações afetivas que me cansa: o açoite na liberdade. A única tábua de salvação que tem me mantido no mundo é a liberdade. É essa fascinante janela em que a gente pode quase tudo e quase ninguém percebe. Confesso que não vejo muito sentido na vida, às vezes. Mas isso não tem a ver com depressão, decepção ou traço suicidade. Eu sempre vejo a euforia com certa retração e receio. E vejo na invenção de ser feliz uma válvula de escape para que as pessoas não pirem. É preciso acreditar em alguma coisa. É preciso ter alguma escora. Mas eu, mesmo com escoras, vejo pouco sentido na vida, às vezes. E quando não vejo esse sentido geralmente estou mais alegre do que triste.


"Ah, vontade de ficar mas tempo de ir embora..."


Esse clima de docilidade e tristeza me fascina mais, me atiça mais, me acrescenta mais. Quem quiser reprovar que reprove, afinal, a ditadura da felicidade foi consolidada no Brasil nos anos 90 com os modismos musicais e se alastrou para outros segmentos da cultura brasileira. Uma letra como Trocando em Miúdos de beleza rara passou a ser enxergada como cafona, sofrida e coisa de velho porque a moda era dizer que era feliz. Mas que felicidade é essa que precisa gritar, pular, encher a cara ou se dopar de sexo sem ter a noção no dia seguinte de tudo que se viveu? De que adianta viver a 190km/h se não se sabe depois o que viveu e, de fato, nada ficou? É viver o efêmero. Nem se tem o que esvaziar porque de fato nada preenche.

Meu barroquismo não deixa que eu seja alegre e eu até fico alegre com isso (;-p) . Alegria, às vezes, pode ser o reverso que poucos dominam ou identificam. Coisa rara de se perceber.



Fotos: http://magmode.wordpress.com/2010/12/

5 comentários:

Brito disse...

A felicidade está em cada um, o que falta é perceber isso. Muitas vezes fulano é feliz de uma forma, contudo essa forma não é aceita pelo modismo do período. Resultado: Fulano adota o modelo de felicidade modista acreditando ser feliz seguindo tal modelo. Acredito que como resultado desse comportamento é que surgem as depressões, as decepções, e os sentimentos e sensações negativas na vida de fulano. Fulano abdicou de sua forma de felicidade em prol de uma suposta felicidade pregada pelo modismo.

A felicidade é conquistada com personalidade para encarar a guerra entre os modismos sociais e o que realmente faz feliz a fulano. Não critico a fulano pela atitude, pois todo mundo tem a necessidade de sentir-se parte de um grupo social. Fulano pode ser "excluido" de um grupo social por preferir sua forma de felicidade ao modismo implantado. Mas aí vale a reflexão: pertencer a um grupo social que não respeita a sua opção de felicidade lhe trará felicidade?

Edi disse...

Gracinha...vc é lindo, isso sim!! E lírico, e contestador, e pragmático as vezes, mas triste não!!

Aliás, penso que o contrário da felicidade não é a tristeza, é a apatia, é o "e daí?" diante do assombro da vida... e isso não tem nada a ver com vc.

A tristeza pode ser bonita (poetas devem ser tristes), a dor pode ser bonita, quando nos aproxima de quem realmente importa, até a morte pode ser boa, quando nos ensina que nada dura pra sempre, que é preciso valorizar cada oportunidade de ser e fazer alguém melhor.

Adoro ler você!! bj,bj,bj

Como Ganhar Dinheiro disse...

Muito bom o blog. Super interessante. Parabéns! Valeu mesmo...

Belle disse...

Você é o cara mais doce que já conheci, que consegue ver o que passa na maioria das vezes desapercebido para o "resto".

Adoro compartilhar teu jeito de olhar o mundo e de quebrar rótulos.

Saudade

Joyce Andrade disse...

A felicidade é fazer o que vc gosta e estar perto das pessoas que te amam. Somente isso e mais nada. Amor ao próximo, é o que precisamos desde o início do mundo.

Abraços.
Joyce