18 de dezembro de 2006

Travestis de quem mesmo?

O verão oficialmente ainda não chegou, mas em João Pessoa (PB) não é só o sol que nasce primeiro. O verão também acorda mais cedo por essas bandas. E com ele o fenômeno sazonal invade novamente as academias de musculaçao e espaços de esportes: a invasão de "travestis" de homens. Explico: na década de 80 os antropólogos Peter Fry e Edward MacRae, inspirados por suas pesquisas de campo, definiram o michê, jovem que se prostitui nas ruas utilizando a virilidade de forma exagerada, como o travesti do homem, assim como o travesti o é da mulher. Ambos são caricaturas de suas formas originais.
Pois bem... ao redor do equipamento supino, adolescentes e jovens se "enfrentam" na exibição de músculos e levantamentos de peso. O que vale é ser o mais forte. São os descendentes, principalmente no aspecto intelectual, do Rambo, que em breve voltará às telas do cinema. Lamentável, mas voltará. uhuhuhuhuhu
Quem é o quê nestes lugares? Vivemos o momento da corpolatria mesmo. O que vale é a avalanche de músculos arredondados por exercícios repetidamente de forma exagerada em tempo recorde e, em casos extremos, através de bombas (anabolizantes) para um efeito ainda mais rápido.
Os tipos são sempre os mesmos. Digamos que as pessoas começam a se sentir incluídas a partir do corpo e de um tipo social. Ao serem bombados eles passam a estar na moda, como diz a letra do funk "sou feia, mas tô na moda". Isso para eles, afinal, é o que importa. Nos shoppings, na praia, no Centro da cidade e, principalmente, tanto na área nobre quanto na periferia, eles são muitos. Se socializam e ganham fama. Ninguém mais fala: Você conhece Pedro, filho de dona Josefa?, como é de costume associar às pessoas aos pais e sobrenomes. Ao contrário.Dizem: Você conhece Pedro, aquele cara fortão, bem sarado? Nem precisa mais ser inteligente, educado, ético, honesto e até bonito. O que vale é ter o "corpo".
Na TV, seja nos jornalísticos ou de entretenimento, boa parte dos programas abordas as benesses de ter um corpo escultural. Nas novelas e comerciais, nem precisa analisar já que todos dizem: seja alguém! Tenha um corpo! E essa onda de qualidade de vida que crianças deixam de brincar pra praticar esportes para ter um corpo, uma vida, etc, menos pelo prazer que o mesmo pode proporcionar. E as tias? Com Renew e firmes e fortes querendo ter um corpo, não importa quanto custe: pessoal, psicológico ou material.
Tem havido realmente uma inversão de valores, de conceitos e de vivências. Não me refiro à moral especificamente, mas em um país onde ser desonesto é motivo de torcida e vibração, transformar o corpo e tornar-se mais um "travesti" talvez seja pouco diante desse caos, onde quem vê corpo não vê coração.
Esse assunto sempre me vêm à cabeça todas as vezes em que passo de ônibus e presencio os travestis serem insultados por homens, muitas vezes também "travestis" pelo avesso. E quando no shopping quase atropelo algum carinha que ao invés de olhar para a frente e os lado, fica se analisando, se comendo e se elogiando.
Afinal, somos travestis de quem mesmo, se já somos máscaras, personas e quase souvernirs?!!!

P.s.: Aê brow, quanto tu tá pegando no supino, mê irmão?!!! punf!!!


Um comentário:

Ana Felippe disse...

Academia tbm é investimento!