23 de dezembro de 2006

Volver ao riso simples

O passado pode bater à porta? Para Almodóvar, até mesmo as mais duras batidas um dia retornam à nossa vida. Em Volver, sua mais recente película, o passado e o presente se reencontram juntamente com o drama e a comédia, dois dos ingredientes mais famosos em seu trabalho para dar vazão a história de mulheres, cada uma com sua dor e seu prazer. Isso me lembrou o Caetano Velloso vigoroso do início dos anos 80 "não me venha falar na malícia de toda mulher/Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
Almodóvar levou para o cinema um filme digerível para um grande público como o do Brasil, embora não tenha tido uma boa bilheteria. Aborda a morte sob vários aspectos, desde o que representa a perda de um parente até a perda que só mais tarde vem à tona, a causada pelo abuso sexual. Sim, ele não esquece o sexo. Dessa vez os travestis, lésbicas, gays, usuários de drogas, etc, cedem lugar a um universo exclusivamente quase feminino.
Penólope Cruz interpreta Raimunda, uma mulher trabalhadora que se vê diante dos "fantasmas" do passado quando a encontra o marido morto pela própria filha Paula ao se defender de uma tentavia de estupro. Para completar o caos emocional, Raimunda recebe a notícia de que a tia acabara de morrer e que o fantasma da mãe tem visitada a aldeia onde nasceram. Daí o que se desenrola é um misto de comicidade com situaões e diálogos engraçados e a busca de Almodóvar em passar a limpo mais uma história que havia ficado no passado incompleta. Volver é mais que um retorno ao começo da história. É uma volta a comicidade existente no Almodóvar que havia ficado para trás, principamente, com os últimos Má Educação, Fale Com Ela e Tudo Sobre Minha Mãe, filmes complexos, densos e melancólicos. Volver Almodóvar, que é bom e faz farta.

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