16 de fevereiro de 2007

Passos e tropeços na música


Idéias e idéias não faltam, mas a inspirãção e concentração às vezes somem de mim, portanto, os textos a seguir não seguem uma ordem cronológica, inclusive, com datas de postagem igual à do "aconticido".
Anay Claro e Eleonora Falcone. Duas intérpretes de gerações diferentes em busca de uma mesma coisa: a estrada. Explico: as duas fizeram shows no projeto "Estação Nordeste", que me instigaram a voltar a escrever aqui sobre música e até resgatar esse momento das duas. Anay tenta reencontrar um lugar de volta à música unindo o som de gerações distintas, enquanto que Eleonora busca se reiventar, apesar de nova na arte, unindo poesia à sons contemporâneos.
Pela primeira vez que vi Anay Claro a ouvi com desconforto por saber do potencial artístico e da presença cênica dela, no entanto, é uma artista experiente que precisa ser lapidada dos excessos, risco que até artistas consagrados tiverem que repensar um dia. O repertório não poderia ter sido melhor escolhido, assim como os músicos. Mas é aí que está o risco. Grandes compositores, grandes músicas, grandes músicos. Muitos superlativos às vezes atrapalham, mais que ajudam. Ao não optar por um som mais enxuto, limpo e econômico, afinal, só artistas populares conseguem fazer show com mega bandas por aí, Anay optou por uma banda grande, com muitos instrumentos, o que só atrapalhou a audição do show que resultou do CD 'Claro'.
Os arranjos pecam por reproduzir um clima Nordestino rural, conflitante muitas vezes com solos de guitarra que mais lembram a fase mais punk-metaleira dos Titãs. Algum problema nisso? A tal misturada de ritmos que tanto tenho falado. É mais fácil fazer um arranjo e juntar forró com guitarras, com triângulo e zabumba do que optar por um som limpo, sem ser acústico, mas que o público perceba as nuances da melodia e da letra. Exemplo disso foram as interpretações de 'Palavra chave' de Fuba e Pedro Osmar, registrada por Paulinho Ditarso; e 'A gente tinha combinado' gravada em dueto pelos compositores da música, Déo Nunes e Cátia de França. As bases essenciais das duas músicas foram tiradas, que era justamente a percussão e com isso Anay Claro perdeu uma ótima oportunidade de mostrar um samba percussivo autenticamente paraibano na primeira e um reggae no segundo.
Há anos sem gravar, Anay Claro tem voz, presença cênica - embora precise aprender a conter energia quando a música pede esse economia - e um melhor trato na expressão junto ao público, outro excesso. Prestes a lançar o CD Claro, Anay tem como desafio não reproduzir os mesmos erros que Elba Ramalho cometeu no início de carreira ao não trabalhar melhor o potencial que sua voz tem e limpar os excessos da expressão corporal, definindo para si uma outra postura artística. Do CD não há o que falar pois não o ouvi. O show vi e fiquei angustiado ao pensar: "será que o arranjador não percebeu essas coisas?" Anay bem que poderia voltar com o lançamento do CD pra valer com uma banda econômica, repensar os arranjos e fazer algo mais inovador e um show mais conceitual, afinal, show quando é meramente o disco não tem sentido de ser. E os arranjos podem mudar, afinal, a música é o momento de sua execução.


Acertando o passo e o canto - Outro show que me chamou bastante a atenção foi o de Eleonora Falcone. Pela primeira vez a vi solta no palco, cantando para fora, sem o tom de lamento presente em outras apresentações que soavam repetitivos e cansavam quem a escutava. Com apenas um trio no palco, bateria, baixo e guitarra, Eleonora Falcone cantou do fado ao rock, com muito entusiamos. Logo de início já podia se perceber uma diferença: a cantora largou o véu e o preto e chegou à Praça Antenor Navarro de cor de laranja. Mais verão impossível.
Desde sua chegada à João Pessoa, Eleonora Falcone tem se destacado no cenário local a meu ver por demonstrar racionalidade no trato de sua própria carreira e por uma curiosidade em querer ampliar horizontes musicais. Do fado ela não larga, mas se aproximou da música eletrônica, do pop, o que trouxe mais suavidade até para as letras mais densas.
Eleonora Falcone, paraibana que é, só despertou para a música ao morar no Rio de Janeiro. De volta à terra lançou o CD "Apetite", que de início causou estranheza porque ela se dizia paraibana e ninguém a conhecia. Mas fomos aos poucos a conhecendo. Confesso que sempre achei exagerado o jeito dela cantar, como se estivesse ouvindo os programas radiofônicos da madrugada com as grandes cantoras do rádio. Mas ela canta e canta bem. Músicas como 'Michel Jackson usa batom' ganharam novo fôlegoe empolgaram o público. Eleonora inovou ao abrir o show com a exibição de seu primeiro vídeo clipe que mostra uma cidade dificilmente visto pelas TVs locais. Um grande acerto artístico.
Agora é esperar que essa racionalidade e curiosidade não a faça a cada show mudar de estilos e de apresentação cênica, senão ficará estranho essa mutação artística tão rápida.

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